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quinta-feira, 22 de abril de 2010

TERRA!.. A Mãe das Mães

Passarão os homens, a ambição, a inconsequência... A Terra, não.

Planeta Terra


No tempo dos voos das cosmonaves, a mente livre percorre as amplidões dos espaços siderais e perpassa satélites, planetas, poeiras cósmicas, pedregulhos meteoríticos, estrelas das mais variadas magnitudes e salta de sistema em sistema ganhando as mais longínquas e impensadas paragens das amplidões infinitas.

O homem pensa na posse de algo tão imenso que nem sequer imagina quão grande seja.

As mentes fervilham e trabalham.

A ciência se desenvolve e avança.

No tempo da comunicação impossível, das mensagens estelares, dos contatos com outras dimensões de existência apenas suspeitada; do envio de imagens através do vácuo desde os mais distantes planetas à Terra, e de tantas ondas enviadas aos espaços infinitos levando imagens e sons que, sabe Deus, talvez sejam captadas em lugares nunca por nós imaginados.




Na era do vasculhar das potencialidades das mentes até nos seus aspectos mais extra-sensoriais.

Você continua sendo a mãe extremosa, mãe de todas as mães e dos pais, e dos avós e de todos os ancestrais, enfim.

Você que protege sem desproteger, sem enfraquecer o forte ou debilitar o fraco. Que incansavelmente vem, há milênios, nos expondo à luz e ao calor do Sol ao fazer o dia e, ao saber-nos cansados, envolve-nos em sua imensa sombra para que repousemos, e faz a noite.



Você que por milhões de anos se preparou para nos conceber, mercê da vontade de Deus; e por outros tantos nos gestou com infinita paciência, aguardando um lentíssimo evoluir de moléculas, de vírus de bactérias e de uma cadeia imensa de complexidades sucessivas até chegar ao que somos.

Amada mãe que cede cada átomo, cada cristal, cada molécula para a estruturação de todos os seres. E, os protege para que sobrevivam, e os expõe à agruras e labores para que se robusteçam e ganhem têmpera; e lhes proporciona belezas, perfumes e sensibilidade para que, sendo fortes e rijos também saibam sentir os abstratos sublimes como a saudade, o amor, a fraternidade, a poesia; e que, quando a vida cessa e a alma ganha o infinito, reabsorve cada fragmento, cada grão e seleciona elemento por elemento recondicionando-os para que propiciem renascimentos e , como um todo universal, se eternizem.

Mapa mundi

No tempo das maravilhosas realizações dos homens...
Você, sábia como sei não há, por certo, de ficar impassível a tudo o que essas realizações maravilhosas vêm destruindo em você.
Paciente e sábia, eis a sua maior qualidade. Imagino que bem poderia inclinar a sua equatorial cintura de quarenta mil quilômetros e inverter a posição dos pólos com a mesma. Isso provocaria tanta cessação de vida, que a superpopulação, o alucinado progresso, o desenfreado e irracional consumo, tudo regrediria séculos ou milênios. Uma nova humanidade talvez então se conformasse mais evoluída, mais perfeita e mais digna de você.

Mas você é mãe!... E, as mães criam, sofrem se doam, se consomem e, muitas vezes sucumbem ante a ingratidão ou a insensibilidade dos filhos, porém nunca sequer lhes ocorre a palavra vingança.



E você fica impassível, ou por ser mãe, ou por entender que a humanidade apenas segue uma trajetória previamente traçada como parecem ser todas as trajetórias de tudo o que existe no Universo.

Não é mérito, nem culpa minha, se sendo rijo e forte sou sensível a ponto de dizer que mais que pela gravidade me prendo em você pelo amor e pela gratidão.


Rilmar - 1979

22 de abril - Dia da Terra

terça-feira, 30 de março de 2010

A Luz, A Cruz, Jesus

Réstia de luz
No horizonte;
Pende na cruz
Defronte;
Emana-lhe luz
Da fronte;
A luz, a cruz, Jesus
No monte!


Jesus na cruz no monte

Veio de longe para vê-lo. E prostrou-se diante da cruz em que Ele jazia dependurado. Quis erguer os olhos para embeber-se do seu semblante cheio de mansidão.
Mansidão que o homem não alcança, o filósofo vislumbra e o santo procura.
Inútil, não pôde!

Tudo ao redor emanava tristeza. Várias vezes tentou levantar o olhar em vão. Faltava-lhe coragem? Forças? Auto-domínio? Ou será talvez que se sentisse pequeno demais diante da magnificência do Cristo? Mas, o cordeiro de Deus na sua mansidão e humildade não poderia acaso ser contemplado de frente por um homem comum?

No ar e nas coisas pairava o tédio.
Pendente na cruz o filho de Deus.
Prostrado em frente um homem que andara muito. Que pernoitara muitas vezes ao relento. Que há muito não via os seus e que viera para vê-lo. A pouco e pouco foi vencendo a emoção e foi subindo vagarosamente o olhar. Viu seus pés descalços, feridos, edemaciados, riscados pelo sangue escorrido já ressecado. Depois olhou o corpo maltratado, as mãos feridas e por fim mirou-lhe a face. A face que deveria refletir a dor do escárnio, da traição, da ingratidão, da injustiça; a face que deveria estar contraída pela dor física; era calma. Irradiava compreensão, piedade até.

Pendia a cabeça de encontro ao peito como se Ele dormisse. Aflorava-lhe no semblante descontraído a impressão de que sonhava talvez com uma humanidade diferente, compreensiva, amorável, sincera, crente e desprendida.
Viera de longe suplicar-lhe cura. Mas, Ele jazia ali morto.
Não alcançando a cura física, sentiu que suas dores eram pequenas demais diante das dele.
Notou-se egoísta até.
Levantou-se.
Sentia-se leve. Descontraído.
Olhou mais uma vez para o Cristo e suplicou-lhe que o ajudasse no aprimoramento do íntimo. Para que a proximidade da morte e enchesse de esperanças. Para que a fé o enchesse de bondade durante a vida.

Virou-se e começou a afastar-se vagaroso. Olhou para a perna que uma úlcera comia e não conseguiu mais ficar triste. Deu alguns passos, desceu a perna da calça cobrindo a ferida e foi embora.
Andava lentamente, arrastando a perna inchada e ulcerada. A ferida era feia, antiga, profunda, cheirava mal e doía muito a cada passo. As pessoas o evitavam. A jornada pelo mundo parecia não ter fim.
Murmurava em prece, pleno de fé: Cordeiro de Deus, ainda que eu não mereça, derrama sobre mim e vossa paz. Alivia meu sofrer...
Num tempo de pouca medicina, de infindáveis caminhadas,sem afeto, vivendo da caridade, era grande súa pena.

A família

Tempos depois, anos talvez passados, percorria um estreito caminho que margeava uma cerca quando, parado à sua frente, viu o Cristo.
Tomé, talvez, não tenha visto um Cristo mais concreto e real.
Sentiu que estava diante de Jesus, não houve espanto, nem suplicou nada. Apenas o olhou e vendo que o Cristo sorria, sorriu também.
Depois se ajoelhou e pôs os olhos no chão. Nessa humílima atitude esteve imóvel por um tempo longo e emocionante..



Em certo momento, sentindo que Ele se fora, levantou-se.
O coração batia tão rápido e tão forte que parecia saltar do peito. Uma alegria esfuziante o arrebatava. Intrigado, desejoso de contar tudo a alguém, pôs-se a correr como um louco em direção ao povoado.
Deslocava-se velozmente, sem dores e sem se dar conta de que já podia correr.
Novembro de 1972.
Rilmar José Gomes

domingo, 25 de outubro de 2009

Da Vida a Vida Vi - Dia do Médico

Sob esse título, que soa para mim como Davi, Davi, Davi; falo um pouco desse grande ipamerino que, assim como alguns outros, deveria ter um busto erigido em praça pública.

Talvez, Ipameri devesse ter uma praça dos grandes vultos e, nas escolas, um dia por ano, fosse dedicado todo o tempo de uma ou duas aulas para se falar nos grandes vultos ipamerinos.
Minha percepção do Dr. David Cosac, é a percepção do povo, do menino que eu era quando em 1947 foi eleito prefeito de Ipameri. Estava sendo eleito um jovem médico que fizera seu curso no Rio de Janeiro onde permanecera fazendo estágios e se especializando por mais dois anos.
Inteligentíssimo, entusiasmado, com uma grande capacidade de trabalho; esplêndida formação médica que aliada à inteligência, coragem, à capacidade de decisão e ao inconformismo com as limitações técnicas encontradas na cidade para o pleno exercício da prática médica em Ipameri; fez com se tornasse, a meu ver, o grande agente para mudanças e para o estabelecimento de condições que tornaram Ipameri um centro de referência e acolhimento para tratamento, do povo de Ipameri e de uma vasta região cujo raio talvez ultrapassasse duzentos quilômetros.
Em um tempo em que a saúde não era direito do povo, não existiam planos de saúde nem SUS ou qualquer outra via de acesso a um tratamento hospitalar para quem não podia pagar; a criação de um grande hospital, bem equipado, com equipe médica competente e com sentido de equipe; e, além disso, um Hospital que na origem já era uma Associação Benemérita, uma Hospital do povo e para o povo.
A pessoa que concebeu, liderou uma equipe de valorosos cidadãos, mobilizou o povo, peregrinou em busca de verbas, fez parte de todas as etapas do planejamento e da construção e, depois se dedicou de corpo e alma trabalhando como médico generalista cujo campo de atuação abrangia todas as áreas da medicina que iam desde a pediatria, passava pela cirurgia, ginecologia e obstetrícia, psiquiatria, trauma e ortopedia.
A pessoa que foi atrás de colegas usando sua imensa capacidade de convencimento para trazê-los para Ipameri; a pessoa que administrou o hospital cuidando para que tudo fosse bem feito, para que não faltassem material, remédios, lençóis, material de limpeza, instrumentos etc.
Essa pessoa não trabalhou sozinha. Aglutinou esforços. Liderou grandes inteligências, grandes capacidades. Catalizou idéias. Direcionou ações para a conclusão de um objetivo. Formou um corpo de auxiliares, para o que chegou a mandar enfermeira fazer capacitação no Rio de Janeiro.
Para que não houvesse nenhuma possibilidade de que aquela obra não fosse inteiramente de toda a comunidade; ele, toda a equipe, todo o grupo de idealizadores criaram-na como entidade benemérita: Associação de Amparo à Maternidade e à Infância de Ipameri.
Tive algumas oportunidades de conhecer esse homem um pouco mais de perto. Uma delas foi quando eu trabalhava na Tipografia Minerva e o jornal A Folha do Povo era impresso lá. Quase sempre ele ia lá comentar uma matéria ou a colocação de um clichê na matéria que ia ser publicada naquela semana e, assim, eu tinha oportunidade de ouvi-lo argumentar com grande clareza, brilhantismo e de modo às vezes combativo mas, no mais das vezes, alegre e camarada.
Depois, tive oportunidade de trabalhar por algum tempo na residência dele, onde eu auxiliava nos serviços gerais e tinha a função de buscar um galão de leite em uma chácara do Santinoni nas proximidades da cidade. Nessa época eu, certa vez, precisei de uma consulta médica e ele me atendeu com muita cortesia e eficiência. A residência dava fundos para o Hospital e ele, mal almoçava e já estava indo para o hospital. Era incansável.
Muitos anos depois, depois de muitas voltas do mundo e da vida, tive oportunidade de trabalhar com o agora meu colega David Cosac. Se eu já o admirava conhecendo-o de longe, quando trabalhamos juntos, pude testemunhar o idealista, o denodado, o desprendido, o grande colega que me acolheu, me orientou, confiou em mim, fez de tudo para manter uma equipe coesa no Hospital Maternidade de Jaraguá, que foi onde trabalhamos juntos. Quanto mais o conhecia , mais eu me reportava à Ipameri e entendia quem foi aquele grande médico e benfeitor que tinha opositores mas a cidade toda o via como um grande médico e a maioria da população o adorava.
Não vejo como não erigir um busto em praça pública para tão grande homem, tão notória figura humana.
Com você amigo, colega, ipamerino que me orgulha: Da Vida a Vida Vi.
Minha gratidão e admiração
Rilmar - 18.10.2009 –DIA DO MÉDICO